domingo, 14 de fevereiro de 2010

Documentários com Banksy e Vik Muniz levantam questões éticas e estéticas na arte


ALESSANDRO GIANNINI Enviado especial a Berlim


As artes plásticas também tiveram seu momento na Berlinale neste fim de semana. Na mostra competitiva, na condição especialíssima de "hors concours", o documentário "Exit Through The Gift Shop", do anônimo e misterioso artista de rua inglês Banksy, revela os segredos, as manhas e os artifícios dessa nova linhagem que usa as grandes metrópoles como suporte para suas manifestações. Na seção Panorama Dokumenta, a co-produção britânica e brasileira "Lixo Extraordinário", de Lucy Walker, com co-direção de João Jardim e Karen Harley, acompanha o artista plástico Vik Muniz no desenvolvimento de um projeto envolvendo catadores de lixo do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, um dos maiores aterros sanitários do mundo.

Ambos tocam em temas importantes no âmbito das artes, desde a questão conceitual - o que pode ser considerado arte - até problemas éticos - quais são os limites do artista. Enquanto "Exit Through The Gift Shop" usa a ambiguidade, a secretividade e a subversão como instrumentos narrativos, "Lixo Extraordinário" tem dificuldade de achar o tom e é prejudicado por uma inacreditável falta de unidade e coerência interna. Em Berlim, ambos os filmes obtiveram uma boa resposta, embora até o momento tenham sido exibidos para platéias diferentes.

Assinado pelo misterioso Banksy, que não se deixa gravar sem esconder o rosto e "mascarar" a voz, "Exit Through The Gift Shop" conta a história de um certo Thierry Guetta, artista francês radicado em Los Angeles com compulsão por duas atividades: filmar o próprio cotidiano e acompanhar artistas de rua em suas atividades "subversivas". Na sua coleção de astros da "street art" faltava apenas o mundialmente conhecido, mas notoriamente inacessível, Banksy. Por uma coincidência do destino, o próprio artista chegou até ele e a relação entre ambos evoluiu tanto que o francês se tornou ele próprio um grande nome das artes quase que instantaneamente.

Essa história serve de pano de fundo para montar um painel da arte de rua contemporânea e a dimensão que tomou no âmbito das cidades, dos museus e até das casas de leilão. Justamente por não deixar claro o limite entre o real e a fantasia e também por usar o humor para evitar reverências inúteis, Banksy consegue ser ao mesmo tempo abrangente e pontual nas questões que mais lhe interessam e que têm a ver com o papel das artes plásticas como manifestação popular e de intervenção política.

"Lixo Contemporâneo", por sua vez, acompanha Muniz em busca de personagens para a realização de um projeto que visa expor um problema e melhorar a vida de pessoas que, como ele, nasceram pobres, mas não tiveram oportunidade de crescer e melhorar. "É uma maneira de devolver um pouco daquilo que eu ganhei", diz ele, a certa altura do documentário. O filme registra a busca do artista e fotógrafo por personagens no aterro sanitário do Jardim Gramacho, no Rio. Ao encontrá-los, ele enfrenta questões éticas que são expostas diante das câmeras. O problema não está no que é dito, mas no modo como tudo se organiza na tela.

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