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Se o cinema começou com a imagem e ao longo do tempo agregou o som para depois transformar-se no que conhecemos hoje em cinema áudio-visual, o que faço é reconhecer aquilo que desde os primórdios da historia da ferramenta cinema existiu: o espaço.
Não existe imagem sem o contexto espacial. O que os outros fizeram foi pular um quesito de fundamental importância para a construção do contar historia através da imagem.
O cinema-espaço existe e ele será contado assim:
Uma caixa preta é só uma caixa preta. Por conta da vergonha escondemos nossos sentimentos aos outros quando dentro de uma sala de cinema, que desde sua constituição é a mesma. Dependendo do filme: choramos, rimos, relembramos histórias pessoais, ficamos espantados com a mentira que nos deixamos enganar, E PAGAMOS. Entretanto, o nosso amparo é estar e permanecer até o fim dentro de uma caixa preta; tal qual à de um avião, da qual só é aberta após um acidente. As salas de exibições, desde seu principio constituinte, têm as mesmas características. O que mudara com os tempo fora apenas alguns itens tecnológicos que chegaram para maquiar ainda mais o irreal e deixá-lo com cara de verdade. São o que eu chamo de "itens massageadores da ignorância": eles têm a função de curar qualquer tipo de mal-estar causado pela crítica. Toda sala de cinema que se preze tem seu kit: som de última geração e imagem de altíssima definição, como se a verdade existisse dependente da tecnologia do que vemos e ouvimos... É a evidente supremacia da ciência travestida em tecnologia de consumo.
O Cinema-Espaço é, em contra posição, a construção da imagem através da transformação do espaço físico real envolto a muita sonoridade. A transformação é o motor síntese para a captura de imagens e, ao longo do processo, é narrada a historia de motivação de autores reais que aparecerão ao longo da construção do espaço e do projeto em si. Portanto, o Cinema-Espaço tem uma estreita ligação entre o ambiente e o projeto que será realizado.
Ele poderá registrar mudanças incríveis que poderão ir desde a intervenção urbana até a construção onírica dentro do espaço real. A obra de arte é o espaço em transformação e o suporte é o Cinema-Espaço. Chega de salas escuras para projeção de filmes que não mudam. A projeção industrial de cinema tem seu formato e é incapaz de trazer melhorias a um povo ou, muito menos, a um espaço publico. O formato foi facilmente absorvido pela indústria cultural que em suas constituições físicas do projeto arquitetônico começa pela catraca.
O Cinema-Espaço NÃO é cenografia fake. Ele tem como propriedade o registro do desenvolvimento, inicio, meio e fim da mudança gerada por uma ou mais pessoas sem ligação com qualquer tipo de instituição ou grupo já institucionalizado, seja por meio de uma ONG ou Estado. Ele tem a preocupação de tornar acessível imagem e som da transformação social e arquitetural gerado pela movimentação dos autores e está intimamente ligado a esse local, uma vez que não existe filme sem haver a mudança. O Cinema-Espaço é, dessa forma, a voz dos sem-voz, enquanto testemunha e registro da historia do lugar que fora transformado e da própria transformação através de seus agentes; sua projeção só tem contexto quando exposto no local de realização do projeto e/ou em locais públicos e abertos. Abertos compreende-se desde o espaço físico até o livre acesso sem a cobrança de quantia monetária.
O Cinema-Espaço nasce da vontade de transformar o espaço público ou privado com benfeitorias permanentes para o desfrute social amplo sem intenção de adquirir lucro com o feito. Seja o espaço em questão ou até mesmo com os registros gerados pela obra maior: fotografias, entrevistas, textos, vídeos, etc...
O caráter ético provido no Cinema-Espaço vem da simplicidade com que crianças, jovens, mulheres e homens ajudaram na construção do espaço social com suas falas, suas imagens, suas historias e até mesmo com suas próprias mãos. Ele nasce de um sonho, uma idealização de transformar o espaço em algo melhor para trazer cultura e conhecimento aos que estão excluídos do sistema de acumulação do capital cultural.
São os verdadeiros centros culturais de uma cidade porque ali, naquele espaço, terá, desde sua construção, a opinião e a força de múltiplas vozes. Vozes que nasceram e/ou viveram naquele espaço e que, por isso, são detentoras maiores da cultura que propagarão a quem quiser assistir ao Cinema-Espaço e suas variações de expressão.
O Cinema-Espaço é um suporte dentro do espaço em transformação constante. Neste espaço poderá ocorrer desde o funcionamento de uma biblioteca até a apresentação musical de indivíduos que o ocupam e interagem na transformação. Certamente essas pessoas ocuparão esse espaço com alguma atividade que expressará facilmente a marca de sua cultura, a cultura de um país passado por anos e anos através da mistura e muita especificidade.
Mas o Cinema-Espaço não limita-se apenas ao registro. Ele é a saída para a transformação de um processo já estabelecido como o único em acumular cultura e, que por conseqüência, condiciona a relação entre indivíduo e cultura em um sistema de consumo. Todavia, cada indivíduo tem a liberdade de criar sua Arte, de expor sua cultura da maneira que lhe faz feliz. Portanto, o Cinema-Espaço vem para romper com a caixa preta, onde o choro e o riso são manipulados pela edição e escondido do mundo. Ele traz o conhecimento de algo que está por realizar ou já realizado, a possibilidade de transformação interior a partir do convívio social.
Fazer parte do espaço é inerente ao homem, transformá-lo em algo melhor para todos é para quem ainda sonha e acredita que o ser humano pode transformar o trabalho em beleza, Arte.
Jeff Anderson
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