sábado, 23 de junho de 2007

Antropologia, desmistificação e ceticismo

Antropologia, desmistificação e ceticismo


Mais um semestre e muitas novas experiências e, com elas, aprendizado e amadurecimento. Farei aqui um apanhado não apenas desses últimos meses, mas tentarei construir o que aprendi desde o primeiro ano do curso, em antropologia. Faço isso para expor tamanha mudança que causou o curso em mim, o primeiro semestre de 2007. Frente a uma concepção, hoje constatada retrograda, de que Antropologia era o estudo do homem antigo e não do individuo frente a realidade cultural em que vive. Passei por muitas dificuldades para compreender e desmistificar o então vulgar apelido dado por mim as “aulas de índio”. É com muita vergonha que exponho tamanho pré-conceito.
Alguma coisa já estava mudando quando comecei a estudar Levi Strauss e ver que a antropologia era uma bricolagem, puro bricoleur. Isso fez com que começasse a ver a cidade em que vivo de maneira diferente, com outros olhos para uma compreensão mais ampla ao que se refere urbanidade e suas variáveis que a transformam dia a dia. Nesse sentido foi que vi as primeiras linhas do pensar para o assunto que me propus a discutir e saber mais: modernismo e urbanidade. Lembro-me também que quando conheci Levi Strauss foi um período de grande agitação cultural que passava, estava indo para Paris no mesmo semestre e por durante toda a viajem lembrei varias vezes do texto que trazia, como base, o olhar do estrangeiro dentro de um país diferente a observar pessoas que não eram dali. Isso era Paris e seus milhares de argelinos, marroquinos e uma outra grande parte da África observada por um brasileiro. O texto não tratava claramente de pessoas, é evidente que apliquei sobre o contexto o que estava vivendo naquele momento. Lembro-me que trazia até uma equação que logo, converti para meu olhar. Foram momentos de grandes reflexões que jamais irei esquecer. Foi ali que entendi a estética do nosso curso, foi ali que percebi e senti-me um pequeno aprendiz em antropologia urbana, foi ali que entendi a Puc...
O tempo passou e o regresso era consumado. O curso desse semestre foi bastante desmistificador e ao mesmo tempo trouxe informações que acreditava estar no campo da história somente, entretanto não poderia ser verdade tamanho detalhamento em informações e ligações entre invariáveis assuntos senão fosse feito por antropólogos. Senti-me dono do saber que em pequenas informações, como rastros de animais ou movimento na mata, pode-se fazer leituras exemplares da vida e de um passado breve. Fiquei boquiaberto quando soube que pela pegada de um animal pode-se ter idéia do peso e da taxonomia do mesmo. Outro momento que tive meu pensamento em choque, a respeito dessa construção do saber interminável, foi sobre o conglomerado de informações necessárias para desenvolver um trabalho antropológico. Principalmente, quando referiu, em sala de aula, aos pensadores brasileiros, que em exposição, ficou sabido que alguns não se consideravam antropólogos e sim historiadores como no caso do Sergio Buarque de Holanda. Não importa. Essas e outras informações chegaram para fazer rever alguns conceitos enrijecidos com o ainda pouco tempo de estudo e mudar minha visão para com a matéria em todos os sentidos. Digo isso, pois usarei antropologia para tentar compor meu trabalho e, também, para olhar uma cidade como São Paulo e desvendar a atmosfera que o espaço traça entre individuo e o planejamento arquitetônico, quando há.
A linha traçada pelo curso, que se baseou, sobretudo, no pensamento constituinte europeu do final do século XIV em diante que, por sua vez, nos mostrou como era realizada a ciência e suas diretrizes de se fazer chegar a verdade. Possibilitando, por conseguinte, o maior entendimento quando lido o texto, por exemplo, do Paulo Prado. Um texto desmistificador que trata da formação do povo brasileiro representado, ou analisado, por uma ótica embebida no cientificismo europeu.
Porém, o que mais chamou minha atenção e despertou, conseqüentemente, meu interesse foi quando começamos a ver as vanguardas e seus pensadores. Infelizmente a quantidade de aulas relaciona ao tema foi ínfima quando comparado a importância de tais contestações e exposição social, ao meu ver. Poderíamos ter abordado muito mais o tema, pois considero esse período histórico, no Brasil, como sendo o propulsor de idéias e começo de se fazer pensar o sentido de brasilidade. Confesso que por conta da minha pesquisa ao tema modernismo e urbanidade muitas coisas mudaram em relação às vanguardas, principalmente. Hoje leio Otilia Arantes, Urbanismo em fim de linha, que destroçou uma outra concepção romanceada que tinha das vanguardas artísticas. Fico triste quando, com cada pedaço de minha sustentabilidade defendida veementemente tantas e tantas vezes no bar, vejo caída pelo asfalto sem nenhuma vontade de resgate. Mas Ciências sociais é isso: romper através da pesquisa e, invariavelmente, mudar.
Quando penso as vanguardas no Brasil vejo-as como fim, ou tentativa dê, acabar com o passado colonial que o país mantinha até então. Mesma sabendo que todas elas são de origem européia ainda sim é um fato histórico que temos, que com um pouco mais de trinta anos, após a proclamação da republica, o Brasil vivia a primeira expressão cultural que se fazia pensar a cara de um povo no sentido estético da palavra. É evidente que um povo não se faz apenas por estética artística, o sentido de brasilidade não começa pela cara, ainda mais quando tratamos de um país como o nosso, e sim por compartilhamento da mesma cultura, da mesma historia justaposto a muito bricoleur antropofágico.



Com o apanhado de seminários ocorrido no final do curso, constatei como já observado por mim em sala de aula, a repetição da resistência e da luta nos personagens retratados como melindrosos. Hoje consigo ver que, enquanto costurávamos um plano seqüência de fatos históricos esquecíamos de nos apoiar no tema “brasilidade”. Ouvi muitas historias que tinham como pano de fundo o detalha da vida pessoal do ícone. Até um certo grupo que tentou em vão nos impor ao falatório acéfalo informações que não condiziam ao proposto tema e que, de maneira desrespeitosa, nos manteve dentro de sala por durante três horas ao show de um ataque verborrágico. As conseqüências da tentativa clara de burlar a referida obrigação acadêmica me fez sentir patético por pertencer ao mesmo grupo, enquanto sala, e envergonhado aos que tiveram sua voz adiada para a próxima semana.
Se comparáramos a quantidade de aulas voltada à proposta do seminário, veremos que nosso semestre foi dividido em dois. Um primeiro com aulas expositivas com intuído de nos dar base ao futuro seminário que de tão democrático não nos cobrou a ligação direta com os textos dados como leitura básica.
Em uma analise a respeito vejo que a primeira parte foi de vital importância para conseguir correlação ao tema que desenvolvi – “Anita Malfatti, vida e obra”. Entretanto, esse tema só foi possível pelo contexto que nos foi passado e que, como única forma de responsabilidade acadêmica, nos foi perguntado anteriori o assunto que seria abordado em seminário. Dentro desses quesitos pesquisei e desenvolvi o tema. Quando estava pensando sobre e como seria abordado pensei, inevitavelmente, na sala e em quem estaria lá para ouvir. Deixei todo meu ego e a tentativa de querer ser algo além do que o terceiro ano de ciências sócias possa ter me dado. Deixando de lado e parti, humildemente, no descobrimento da minha intenção. Feito isso consegui suprir minhas expectativa com a explanação do assunto e com o desenvolver de uma exposição sucinta, clara e objetiva ao proposto. Dessa forma considero ter atingido a proposta que me foi passada de antemão. Sendo assim, considero minha nota sendo 10 (dez)
Entretanto, deixo registrado minha opinião a respeito da auto-avaliação. Primeiramente, vejo como a única forma de se avaliar um aluno da Puc ou de qualquer outra universidade que tenha professores com historia e alunos interessados. Caso um desses fatores esteja doente por falta de caráter acredito que a auto-avaliação seja mais um meio de se fazer chegar ao mesmo fim alunos que não tem ou não tiveram nenhuma outra maneira de conseguir chegar onde estão, senão por burlar.
Assim, deixo não só minha gratidão por ter a chance de ouvir e presenciar aulas de tão alto valor cultural como a tristeza de perceber que ainda não somos capazes de pensar brasilidade.

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