Brasília: esquizofrenia arquitetônica
Demência precoce, a qual, segundo Bleuler, seria um deslocamento ou figuração das funções psíquicas. Foi essa a doença que assolou Lucio Costa, o idealizador de Brasília e o inexperiente executor do projeto Oscar Niemeyer. Ao aceitar os desafio da técnica e da máquina, arquitetos como eles e Lê Combusier riscaram o Brasil em pranchetas francesas, ambos pagos com dinheiro do povo.
Jeremy Bentham em Panoption (1791) pensa resolver problemas relacionados à disciplina da prisão e ele diz, de todas as coletividades onde existem problemas de fiscalização – “por um simples projeto arquitetônico o inspetor vê sem ser visto”.[1] É através dessa frase que traço paralelo entre o contexto histórico nacional e a formação do espaço industrial na França. De maneira a compor a insanidade e o desproposito da criação donde, o subterfúgio usado, era a ordem do progresso modernista.
Nascida alguns anos antes do golpe militar brasileiro, a cidade racionalizada brotou do centro oeste como uma flor mecânica, em 18% de umidade relativa do ar. Composta por linhas rápidas a formar grandes espaços que valorizassem o padrão, impelindo, assim, qualquer desabrochar de especificidade nacional, Brasília, nasce seguindo a linha de produção e sob os moldes dos galpões do inicio da revolução industrial francesa. Galpões que em seus primórdios regem três princípios de organização espacial: o político, o técnico e a vigilância de idas e vindas das pessoas e mercadorias.
Por uma questão , entre outras, geopolíticas a capital do Brasil é deslocada do Rio de Janeiro para o centro oeste do território nacional. O período histórico do qual é realizada tal transição consiste na base da industrialização da região sudeste, sobretudo. Quando cito a região sudeste refiro-me a basicamente a duas cidades: são Paulo e Rio de Janeiro, ambas incomparáveis a qualquer cidade de um pais desenvolvido, àquela época. Seja por quantidade de produção ou pela maneira de como é reduzido tais produtos. Vale ressaltar que o período se enquadra desde a campanha política de JK com seu slogan de campanha “Brasil, 50 anos em 5” junto com a chegada a primeira montadora de automóveis. Que como o próprio nome diz não produz, apenas monta. Se a produção de riqueza, segundo Karl Marx, esta na quantidade de trabalho agregado á matéria, a industria brasileira na segunda metade do século XX é uma piada.
Portanto, relacionar linhas modernistas da capital do pais, com sua base nos galpões da industria francesa do século XIX, à industrialização e desenvolvimento da nação vemos que esta fora de cogitação, uma vez que nosso produto em pauta de exportação aquela época ainda estava fincado no setor primário. Assim , excluímos a primeira possibilidade de respaldo à identificação nacional. O que existia era uma intencionalidade de progresso positivista, atrelado ao desenvolvimento industrial que beneficiaria a recém formada classe média brasileira. Ambos, mais tarde constatada, a chaga de um período histórico. A industria fomentada por capital estrangeiro, atrasando assim a concepção que temos hoje de desenvolvimento auto-sustentável e a formação dessa classe que, sobretudo, conservadora se entupia de bossa-nova, enquanto comprava eletrodomésticos deixando que os militares matassem e censurassem aqueles que não se contentavam com a chegada da televisão. A marcha de Deus e a família possibilitou a subida do militarismo ao poder. Quando a classe média percebeu o feito já era tarde e, com isso, foi obrigada a amargar longos anos de ditadura.
A segunda desmistificação que busco constatar se dá ao fato do deslocamento executivo, judiciário e administrativo do poder. Instalada no centro do país, o local que por si só concentra dificuldades de locomoção, uma vez sabido que todo o desenvolvimento de transporte, após campanha de industrialização é passado por linhas de rodovias que sustenta a campanha de desenvolvimento automobilístico. Deixando longe dos olhos do povo qualquer tipo de possíveis contestações que interfira no processo político. O que dificulta a intervenção direta no processo democrático.
Enquanto fabricas eram ocupadas por famílias inteiras que trabalhavam com seus próprios instrumentos de trabalho, Brasília seguia não so os mesmos passos da arquitetura, mas com o nepotismo tão corriqueiro ainda em nossos dias. Lá, explorados integralmente pelo sistema de produção que fazia dos pais tiranos de seus próprios filhos. Aqui, os bem-aventurados parasitas exploradores de uma nação. É assim, portanto, que a frase citada de Jeremy Bentham faz todo o sentido, entretanto, como a esquizofrenia dos arquitetos, tal frase é aplicada no sentido contrário. Se o projeto arquitetônico propõe a inspeção aos inspecionados como finalidade de melhorar essa função, na capital do país o projeto arquitetônico dificulta o dever de qualquer cidadão. Seja por uma questão de deslocamento espacial, que deixa o centro de decisões políticas longe da massa, seja por regras de indumentárias, das quais obriga um povo que até então era tido como “o país dos banguelas” a usarem calças para adentrar em um espaço dito democrático, ou ainda, na forma planejada da cidade que possibilita, como o único ponto de aglomeração, a rodoviária. O povo, desde sua construção, nunca ocupou outra posição senão a periférica. Enquanto conjuntos habitacionais eram construídos por milhares de trabalhadores vindos, em sua maioria, do nordeste do país burocratas desfrutavam da maravilha moderna construída para poucos.
Por fim, o principio técnico que facilitava a circulação da matéria-prima entre as oficinas de processamento foi facilitada pelo inicio da racionalização do espaço. A industria têxtil francesa tomava as diretrizes do que mais tarde seria quesito fundamental em qualquer espaço produtivo da industria moderna. Enquanto o plano diretor da cidade de Brasília tomava, como fundamento, a ordem de construir a partir da racionalização para se produzir mais rápido e em larga escala. Aqui há a divergência de períodos distintos, mas que segue a linha de produção sob o mesmo aspecto: viabilidade da produção máxima.
Se Brasília tivesse sido construída com respaldos nacionais teríamos no lugar do palácio do planalto uma grande oca que estaria sempre aberta às discussões desse povo. E àqueles que divergem da linha de raciocínio traçada para unir as duas construções, usando como respaldo teórico o suporte. Podendo citar até mesmo que há um deslocamento em tempo absurdo desde a criação do cimento, o concreto. Peço que visitem um modernista que ultrapassou a simples blasfêmia de que a idéia estava vinculada ao material exposto junto a ela. A idéia, quando libertária, não se prende em côncavo e convexo, pode estar em um bidê.
[1] Jeremy Bentham, Lê Panoptique ou I´Oeil du pouvoir, Paris, Belfond, 1977, com um prefácio de Michel Foucault.
by Jeff Anderson
sábado, 23 de junho de 2007
“ A ciência do concreto”
Partindo do pressuposto nome do primeiro capitulo do livro “Pensamento Selvagem”, de Levi Strauss, traço a defensiva argumentação do propósito entregue como resultado analítico da leitura.
“ A ciência do concreto”
...em um dialogo sistemático e usando de brincadeira para com o nome do capitulo e a obra entregue, faço uso da metáfora e do conteúdo apreendido. A obra “ eu receberia as piores noticias dos seus lindos lábios” é a materialização da ciência, como bricolagem, ainda que o texto defenda tal técnica como modus operandi e que esta situa-se entre o mítico e a ciência. Eu, por sua vez, digo que é ciência/arte e uma técnica; usando para isso a argumentação do distanciamento histórico e, junto, faço uso dos questionamentos já realizados pelo iconoclasta Marcel Duchamp a respeito do suporte. É descabida a afirmação de que bricoleur é “ o que executa um trabalho usando meios e expedientes que denunciam a ausência de um plano preconcebido e se afastam dos processos e normas adotados pela técnica” por três razões:
A primeira parte do momento que há, assim como foi depreendido do texto, uma sistematização que enxerga todo o processo, sendo assim, não podemos negar que há a possibilidade de reprodução da idéia por mais de uma vez caracterizando-se assim domínio e conhecimento. A segunda, tendo como sabido, a técnica de bricolagem sendo ensinada em instituições de ensino das quais oferecem o curso de artes visuais, por exemplo. E terceira e última corresponde a um antagonismo executado e verificado no texto como afirma quando a bricolagem não tem plano preconcebido – pág 37- uma vez criado por mim como sendo objeto de estudo analítico ao que fora pedido a essa matéria.
Poderia ter escrito um grande texto a respeito da utilização do signo quando usado ao conhecimento que alguns povos indígenas fazem do nome para apreender conhecimento e a qualidade dada quando partem da questão estética para batizar o animal ou vegetal que o cerca em seu meio. Entretanto, assim como realizado por Levi Strauss, me apego antes ao conceito que se faz entre mítico e ciência designado como bricolagem. Uso o mesmo argumento para justificar tal trabalho: “deve-se voltar-se para um conjunto já constituído, formado de ferramentas e materiais; fazer-lhes ou refazer-lhes o inventário; enfim e, sobretudo, entabolar com ele uma espécie de dialogo, para enumerar, antes de escolher entre elas, as respostas possíveis que o conjunto pode oferecer ao problema que ele lhe apresenta”.
Deixo claro: a resposta esta no quadro.
Jeff Anderson
“ A ciência do concreto”
...em um dialogo sistemático e usando de brincadeira para com o nome do capitulo e a obra entregue, faço uso da metáfora e do conteúdo apreendido. A obra “ eu receberia as piores noticias dos seus lindos lábios” é a materialização da ciência, como bricolagem, ainda que o texto defenda tal técnica como modus operandi e que esta situa-se entre o mítico e a ciência. Eu, por sua vez, digo que é ciência/arte e uma técnica; usando para isso a argumentação do distanciamento histórico e, junto, faço uso dos questionamentos já realizados pelo iconoclasta Marcel Duchamp a respeito do suporte. É descabida a afirmação de que bricoleur é “ o que executa um trabalho usando meios e expedientes que denunciam a ausência de um plano preconcebido e se afastam dos processos e normas adotados pela técnica” por três razões:
A primeira parte do momento que há, assim como foi depreendido do texto, uma sistematização que enxerga todo o processo, sendo assim, não podemos negar que há a possibilidade de reprodução da idéia por mais de uma vez caracterizando-se assim domínio e conhecimento. A segunda, tendo como sabido, a técnica de bricolagem sendo ensinada em instituições de ensino das quais oferecem o curso de artes visuais, por exemplo. E terceira e última corresponde a um antagonismo executado e verificado no texto como afirma quando a bricolagem não tem plano preconcebido – pág 37- uma vez criado por mim como sendo objeto de estudo analítico ao que fora pedido a essa matéria.
Poderia ter escrito um grande texto a respeito da utilização do signo quando usado ao conhecimento que alguns povos indígenas fazem do nome para apreender conhecimento e a qualidade dada quando partem da questão estética para batizar o animal ou vegetal que o cerca em seu meio. Entretanto, assim como realizado por Levi Strauss, me apego antes ao conceito que se faz entre mítico e ciência designado como bricolagem. Uso o mesmo argumento para justificar tal trabalho: “deve-se voltar-se para um conjunto já constituído, formado de ferramentas e materiais; fazer-lhes ou refazer-lhes o inventário; enfim e, sobretudo, entabolar com ele uma espécie de dialogo, para enumerar, antes de escolher entre elas, as respostas possíveis que o conjunto pode oferecer ao problema que ele lhe apresenta”.
Deixo claro: a resposta esta no quadro.
Jeff Anderson
Antropologia, desmistificação e ceticismo
Antropologia, desmistificação e ceticismo
Mais um semestre e muitas novas experiências e, com elas, aprendizado e amadurecimento. Farei aqui um apanhado não apenas desses últimos meses, mas tentarei construir o que aprendi desde o primeiro ano do curso, em antropologia. Faço isso para expor tamanha mudança que causou o curso em mim, o primeiro semestre de 2007. Frente a uma concepção, hoje constatada retrograda, de que Antropologia era o estudo do homem antigo e não do individuo frente a realidade cultural em que vive. Passei por muitas dificuldades para compreender e desmistificar o então vulgar apelido dado por mim as “aulas de índio”. É com muita vergonha que exponho tamanho pré-conceito.
Alguma coisa já estava mudando quando comecei a estudar Levi Strauss e ver que a antropologia era uma bricolagem, puro bricoleur. Isso fez com que começasse a ver a cidade em que vivo de maneira diferente, com outros olhos para uma compreensão mais ampla ao que se refere urbanidade e suas variáveis que a transformam dia a dia. Nesse sentido foi que vi as primeiras linhas do pensar para o assunto que me propus a discutir e saber mais: modernismo e urbanidade. Lembro-me também que quando conheci Levi Strauss foi um período de grande agitação cultural que passava, estava indo para Paris no mesmo semestre e por durante toda a viajem lembrei varias vezes do texto que trazia, como base, o olhar do estrangeiro dentro de um país diferente a observar pessoas que não eram dali. Isso era Paris e seus milhares de argelinos, marroquinos e uma outra grande parte da África observada por um brasileiro. O texto não tratava claramente de pessoas, é evidente que apliquei sobre o contexto o que estava vivendo naquele momento. Lembro-me que trazia até uma equação que logo, converti para meu olhar. Foram momentos de grandes reflexões que jamais irei esquecer. Foi ali que entendi a estética do nosso curso, foi ali que percebi e senti-me um pequeno aprendiz em antropologia urbana, foi ali que entendi a Puc...
O tempo passou e o regresso era consumado. O curso desse semestre foi bastante desmistificador e ao mesmo tempo trouxe informações que acreditava estar no campo da história somente, entretanto não poderia ser verdade tamanho detalhamento em informações e ligações entre invariáveis assuntos senão fosse feito por antropólogos. Senti-me dono do saber que em pequenas informações, como rastros de animais ou movimento na mata, pode-se fazer leituras exemplares da vida e de um passado breve. Fiquei boquiaberto quando soube que pela pegada de um animal pode-se ter idéia do peso e da taxonomia do mesmo. Outro momento que tive meu pensamento em choque, a respeito dessa construção do saber interminável, foi sobre o conglomerado de informações necessárias para desenvolver um trabalho antropológico. Principalmente, quando referiu, em sala de aula, aos pensadores brasileiros, que em exposição, ficou sabido que alguns não se consideravam antropólogos e sim historiadores como no caso do Sergio Buarque de Holanda. Não importa. Essas e outras informações chegaram para fazer rever alguns conceitos enrijecidos com o ainda pouco tempo de estudo e mudar minha visão para com a matéria em todos os sentidos. Digo isso, pois usarei antropologia para tentar compor meu trabalho e, também, para olhar uma cidade como São Paulo e desvendar a atmosfera que o espaço traça entre individuo e o planejamento arquitetônico, quando há.
A linha traçada pelo curso, que se baseou, sobretudo, no pensamento constituinte europeu do final do século XIV em diante que, por sua vez, nos mostrou como era realizada a ciência e suas diretrizes de se fazer chegar a verdade. Possibilitando, por conseguinte, o maior entendimento quando lido o texto, por exemplo, do Paulo Prado. Um texto desmistificador que trata da formação do povo brasileiro representado, ou analisado, por uma ótica embebida no cientificismo europeu.
Porém, o que mais chamou minha atenção e despertou, conseqüentemente, meu interesse foi quando começamos a ver as vanguardas e seus pensadores. Infelizmente a quantidade de aulas relaciona ao tema foi ínfima quando comparado a importância de tais contestações e exposição social, ao meu ver. Poderíamos ter abordado muito mais o tema, pois considero esse período histórico, no Brasil, como sendo o propulsor de idéias e começo de se fazer pensar o sentido de brasilidade. Confesso que por conta da minha pesquisa ao tema modernismo e urbanidade muitas coisas mudaram em relação às vanguardas, principalmente. Hoje leio Otilia Arantes, Urbanismo em fim de linha, que destroçou uma outra concepção romanceada que tinha das vanguardas artísticas. Fico triste quando, com cada pedaço de minha sustentabilidade defendida veementemente tantas e tantas vezes no bar, vejo caída pelo asfalto sem nenhuma vontade de resgate. Mas Ciências sociais é isso: romper através da pesquisa e, invariavelmente, mudar.
Quando penso as vanguardas no Brasil vejo-as como fim, ou tentativa dê, acabar com o passado colonial que o país mantinha até então. Mesma sabendo que todas elas são de origem européia ainda sim é um fato histórico que temos, que com um pouco mais de trinta anos, após a proclamação da republica, o Brasil vivia a primeira expressão cultural que se fazia pensar a cara de um povo no sentido estético da palavra. É evidente que um povo não se faz apenas por estética artística, o sentido de brasilidade não começa pela cara, ainda mais quando tratamos de um país como o nosso, e sim por compartilhamento da mesma cultura, da mesma historia justaposto a muito bricoleur antropofágico.
Com o apanhado de seminários ocorrido no final do curso, constatei como já observado por mim em sala de aula, a repetição da resistência e da luta nos personagens retratados como melindrosos. Hoje consigo ver que, enquanto costurávamos um plano seqüência de fatos históricos esquecíamos de nos apoiar no tema “brasilidade”. Ouvi muitas historias que tinham como pano de fundo o detalha da vida pessoal do ícone. Até um certo grupo que tentou em vão nos impor ao falatório acéfalo informações que não condiziam ao proposto tema e que, de maneira desrespeitosa, nos manteve dentro de sala por durante três horas ao show de um ataque verborrágico. As conseqüências da tentativa clara de burlar a referida obrigação acadêmica me fez sentir patético por pertencer ao mesmo grupo, enquanto sala, e envergonhado aos que tiveram sua voz adiada para a próxima semana.
Se comparáramos a quantidade de aulas voltada à proposta do seminário, veremos que nosso semestre foi dividido em dois. Um primeiro com aulas expositivas com intuído de nos dar base ao futuro seminário que de tão democrático não nos cobrou a ligação direta com os textos dados como leitura básica.
Em uma analise a respeito vejo que a primeira parte foi de vital importância para conseguir correlação ao tema que desenvolvi – “Anita Malfatti, vida e obra”. Entretanto, esse tema só foi possível pelo contexto que nos foi passado e que, como única forma de responsabilidade acadêmica, nos foi perguntado anteriori o assunto que seria abordado em seminário. Dentro desses quesitos pesquisei e desenvolvi o tema. Quando estava pensando sobre e como seria abordado pensei, inevitavelmente, na sala e em quem estaria lá para ouvir. Deixei todo meu ego e a tentativa de querer ser algo além do que o terceiro ano de ciências sócias possa ter me dado. Deixando de lado e parti, humildemente, no descobrimento da minha intenção. Feito isso consegui suprir minhas expectativa com a explanação do assunto e com o desenvolver de uma exposição sucinta, clara e objetiva ao proposto. Dessa forma considero ter atingido a proposta que me foi passada de antemão. Sendo assim, considero minha nota sendo 10 (dez)
Entretanto, deixo registrado minha opinião a respeito da auto-avaliação. Primeiramente, vejo como a única forma de se avaliar um aluno da Puc ou de qualquer outra universidade que tenha professores com historia e alunos interessados. Caso um desses fatores esteja doente por falta de caráter acredito que a auto-avaliação seja mais um meio de se fazer chegar ao mesmo fim alunos que não tem ou não tiveram nenhuma outra maneira de conseguir chegar onde estão, senão por burlar.
Assim, deixo não só minha gratidão por ter a chance de ouvir e presenciar aulas de tão alto valor cultural como a tristeza de perceber que ainda não somos capazes de pensar brasilidade.
Mais um semestre e muitas novas experiências e, com elas, aprendizado e amadurecimento. Farei aqui um apanhado não apenas desses últimos meses, mas tentarei construir o que aprendi desde o primeiro ano do curso, em antropologia. Faço isso para expor tamanha mudança que causou o curso em mim, o primeiro semestre de 2007. Frente a uma concepção, hoje constatada retrograda, de que Antropologia era o estudo do homem antigo e não do individuo frente a realidade cultural em que vive. Passei por muitas dificuldades para compreender e desmistificar o então vulgar apelido dado por mim as “aulas de índio”. É com muita vergonha que exponho tamanho pré-conceito.
Alguma coisa já estava mudando quando comecei a estudar Levi Strauss e ver que a antropologia era uma bricolagem, puro bricoleur. Isso fez com que começasse a ver a cidade em que vivo de maneira diferente, com outros olhos para uma compreensão mais ampla ao que se refere urbanidade e suas variáveis que a transformam dia a dia. Nesse sentido foi que vi as primeiras linhas do pensar para o assunto que me propus a discutir e saber mais: modernismo e urbanidade. Lembro-me também que quando conheci Levi Strauss foi um período de grande agitação cultural que passava, estava indo para Paris no mesmo semestre e por durante toda a viajem lembrei varias vezes do texto que trazia, como base, o olhar do estrangeiro dentro de um país diferente a observar pessoas que não eram dali. Isso era Paris e seus milhares de argelinos, marroquinos e uma outra grande parte da África observada por um brasileiro. O texto não tratava claramente de pessoas, é evidente que apliquei sobre o contexto o que estava vivendo naquele momento. Lembro-me que trazia até uma equação que logo, converti para meu olhar. Foram momentos de grandes reflexões que jamais irei esquecer. Foi ali que entendi a estética do nosso curso, foi ali que percebi e senti-me um pequeno aprendiz em antropologia urbana, foi ali que entendi a Puc...
O tempo passou e o regresso era consumado. O curso desse semestre foi bastante desmistificador e ao mesmo tempo trouxe informações que acreditava estar no campo da história somente, entretanto não poderia ser verdade tamanho detalhamento em informações e ligações entre invariáveis assuntos senão fosse feito por antropólogos. Senti-me dono do saber que em pequenas informações, como rastros de animais ou movimento na mata, pode-se fazer leituras exemplares da vida e de um passado breve. Fiquei boquiaberto quando soube que pela pegada de um animal pode-se ter idéia do peso e da taxonomia do mesmo. Outro momento que tive meu pensamento em choque, a respeito dessa construção do saber interminável, foi sobre o conglomerado de informações necessárias para desenvolver um trabalho antropológico. Principalmente, quando referiu, em sala de aula, aos pensadores brasileiros, que em exposição, ficou sabido que alguns não se consideravam antropólogos e sim historiadores como no caso do Sergio Buarque de Holanda. Não importa. Essas e outras informações chegaram para fazer rever alguns conceitos enrijecidos com o ainda pouco tempo de estudo e mudar minha visão para com a matéria em todos os sentidos. Digo isso, pois usarei antropologia para tentar compor meu trabalho e, também, para olhar uma cidade como São Paulo e desvendar a atmosfera que o espaço traça entre individuo e o planejamento arquitetônico, quando há.
A linha traçada pelo curso, que se baseou, sobretudo, no pensamento constituinte europeu do final do século XIV em diante que, por sua vez, nos mostrou como era realizada a ciência e suas diretrizes de se fazer chegar a verdade. Possibilitando, por conseguinte, o maior entendimento quando lido o texto, por exemplo, do Paulo Prado. Um texto desmistificador que trata da formação do povo brasileiro representado, ou analisado, por uma ótica embebida no cientificismo europeu.
Porém, o que mais chamou minha atenção e despertou, conseqüentemente, meu interesse foi quando começamos a ver as vanguardas e seus pensadores. Infelizmente a quantidade de aulas relaciona ao tema foi ínfima quando comparado a importância de tais contestações e exposição social, ao meu ver. Poderíamos ter abordado muito mais o tema, pois considero esse período histórico, no Brasil, como sendo o propulsor de idéias e começo de se fazer pensar o sentido de brasilidade. Confesso que por conta da minha pesquisa ao tema modernismo e urbanidade muitas coisas mudaram em relação às vanguardas, principalmente. Hoje leio Otilia Arantes, Urbanismo em fim de linha, que destroçou uma outra concepção romanceada que tinha das vanguardas artísticas. Fico triste quando, com cada pedaço de minha sustentabilidade defendida veementemente tantas e tantas vezes no bar, vejo caída pelo asfalto sem nenhuma vontade de resgate. Mas Ciências sociais é isso: romper através da pesquisa e, invariavelmente, mudar.
Quando penso as vanguardas no Brasil vejo-as como fim, ou tentativa dê, acabar com o passado colonial que o país mantinha até então. Mesma sabendo que todas elas são de origem européia ainda sim é um fato histórico que temos, que com um pouco mais de trinta anos, após a proclamação da republica, o Brasil vivia a primeira expressão cultural que se fazia pensar a cara de um povo no sentido estético da palavra. É evidente que um povo não se faz apenas por estética artística, o sentido de brasilidade não começa pela cara, ainda mais quando tratamos de um país como o nosso, e sim por compartilhamento da mesma cultura, da mesma historia justaposto a muito bricoleur antropofágico.
Com o apanhado de seminários ocorrido no final do curso, constatei como já observado por mim em sala de aula, a repetição da resistência e da luta nos personagens retratados como melindrosos. Hoje consigo ver que, enquanto costurávamos um plano seqüência de fatos históricos esquecíamos de nos apoiar no tema “brasilidade”. Ouvi muitas historias que tinham como pano de fundo o detalha da vida pessoal do ícone. Até um certo grupo que tentou em vão nos impor ao falatório acéfalo informações que não condiziam ao proposto tema e que, de maneira desrespeitosa, nos manteve dentro de sala por durante três horas ao show de um ataque verborrágico. As conseqüências da tentativa clara de burlar a referida obrigação acadêmica me fez sentir patético por pertencer ao mesmo grupo, enquanto sala, e envergonhado aos que tiveram sua voz adiada para a próxima semana.
Se comparáramos a quantidade de aulas voltada à proposta do seminário, veremos que nosso semestre foi dividido em dois. Um primeiro com aulas expositivas com intuído de nos dar base ao futuro seminário que de tão democrático não nos cobrou a ligação direta com os textos dados como leitura básica.
Em uma analise a respeito vejo que a primeira parte foi de vital importância para conseguir correlação ao tema que desenvolvi – “Anita Malfatti, vida e obra”. Entretanto, esse tema só foi possível pelo contexto que nos foi passado e que, como única forma de responsabilidade acadêmica, nos foi perguntado anteriori o assunto que seria abordado em seminário. Dentro desses quesitos pesquisei e desenvolvi o tema. Quando estava pensando sobre e como seria abordado pensei, inevitavelmente, na sala e em quem estaria lá para ouvir. Deixei todo meu ego e a tentativa de querer ser algo além do que o terceiro ano de ciências sócias possa ter me dado. Deixando de lado e parti, humildemente, no descobrimento da minha intenção. Feito isso consegui suprir minhas expectativa com a explanação do assunto e com o desenvolver de uma exposição sucinta, clara e objetiva ao proposto. Dessa forma considero ter atingido a proposta que me foi passada de antemão. Sendo assim, considero minha nota sendo 10 (dez)
Entretanto, deixo registrado minha opinião a respeito da auto-avaliação. Primeiramente, vejo como a única forma de se avaliar um aluno da Puc ou de qualquer outra universidade que tenha professores com historia e alunos interessados. Caso um desses fatores esteja doente por falta de caráter acredito que a auto-avaliação seja mais um meio de se fazer chegar ao mesmo fim alunos que não tem ou não tiveram nenhuma outra maneira de conseguir chegar onde estão, senão por burlar.
Assim, deixo não só minha gratidão por ter a chance de ouvir e presenciar aulas de tão alto valor cultural como a tristeza de perceber que ainda não somos capazes de pensar brasilidade.
O Boi e o Passarinho
São Paulo, 28 de abril de 2006
O Boi e o Passarinho
Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viajem,
O navio que sobre os abismos caminha.
Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.
Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico um cachimbo,
Outro Poe-se a imitar o enfermo que coxeia!
O poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
As asas de gigante impedem-no de andar.
(Charles Pierre Baudelaire)
Foi ela. Foi ela que atrapalhou seus vôos. Foi ela que confundiu seus sentimentos. Foi ela que rompeu a única maneira de um vôo seguro e duradouro. E foi ela que com suas nevoas, após consumida, rompeu a relação entre o passarinho e seu grande amor, o boi. Ela que, como a maçã de Adão e Eva, mostrou o atalho para se chegar aos céus. Era mentira. Ela, a erva daninha branca e suas sementinhas, fez com que ele arriscasse sua única natureza, a de voar.
O passarinho, que mora no décimo quarto andar de uma alta arvore, agora não voa. Atira-se. Atira-se para o abismo. Em busca de algumas emoções parte para o consumo inconsciente. Ele está mau. Já não voa mais. Está triste e sente-se sozinho, em um lugar estranho. Um estranho no ninho.
Vendo tudo isso, o boi que de saudades chora, e que recentemente passou por uma alto afirmação vê que cometeu um erro de analise quando quis empregar qualidades terrenas ao ser passarinho, que da terra só busca belas paisagens e retorna ao pouso seguro. Quando a saída dada ao passarinho foi a do trabalho, o boi sensível ao seu também amor, quis mostrar que algo estava errado. Entretanto, com suas palavras concretas como chumbo, não foi compreendido. As palavras eram para ele mesmo, enquanto a idéia, que não exposta da maneira como se faz chegar aos ouvidos sensíveis do passarinho perderam-se no ar. O boi quis mostrar que para o passarinho continuar voando e, assim, exercer o que de tão belo é seu dever bastava respeitar suas escolhas. Seus sentimentos. Todas as noites quando busca o sono é a maneira senão de descansar e revitalizar-se com novos sonhos e anseios de explorar novos ares. É aqui que o trabalho é realizado. Seu trabalho consiste em nutrir-se de conteúdo, ainda que impalpável. São as forças para o ciclo natural continuar trazendo beleza aos olhos do boi que lá do aberto campo o olha feliz com a imensidão azul e com a graça que só o passarinho quando, também, feliz pode proporcionar aos olhos lacrimados de um ser que sente todo o peso da tristeza quando não o avista fazendo o que nasceu para fazer: voar.
Antigamente, pois essa relação entre o boi e o passarinho tem mais de um ano, quando cada um estava em seu habitat e a primeira vista logo se apaixonaram existia o comensalismo. É algo que alguns seres humanos biólogos dizem quando existe uma relação mútua de ajuda entre dois seres distintos. É o que acontecia entre eles. O boi, já apaixonado antes mesmo da existência de qualquer relação, não acreditou quando sentiu, pela primeira vez, que podia ser construído algo bom que pudesse os unir. Foi então que ao encontrar-se em um campi os primeiros olhares começaram a existir. O boi infestado de carrapatos, parasitas que o usurpavam sua vitalidade, foi socorrido pela fome do passarinho que tem fome.
Esse era o ciclo. O passarinho era suprido de comida, enquanto ajudava o boi a se livrar de parasitas e, com isso, poderia continuar a conhecer os céus e o boi a transformar toda matéria terrena por onde passava. Era simples. Se não fosse o amor.
A paixão, como já disse, existia para o boi antes mesmo do passarinho mostrar qualquer interesse pelo mesmo. E isso, com o passar do tempo, foi transformando, capacidade que de tão explicita era clara como a Arte de transformar que o boi tinha, o passarinho e ele descobrindo o amigo boi. De tão amigos o passarinho contava historias que via por esses céus longínquos. Levantava a orelha do boi e cochichava seus segredos e sua única paixão: a projeção da luz e o som da natureza. O boi extasiado quase que voava. Apaixonado, quis mudar. E mudou tanto que queria voar. Queria era o passarinho. Queria era ficar juntinho. Mudou.
Vou.
Caiu.
Foi agora, neste ultimo último verão. Por isso, a auto-afirmação. Algumas coisas precisavam ficar claras na cabeça do boi e só o tempo pode ajudar. Boi não voa. Passarinho não pasta. Voar significa liberdade, significa conhecer um amplo campo, significa refinar a visão. Pastar é transformar. É a grama que o boi come e vira adubo para outras vidas crescerem. É a possibilidade que o boi proporciona para que a vida continue. Só que esse boi, assim como esse passarinho, não eram iguais aos outros de sua espécie. O passarinho, por exemplo, quando voa faz um reconhecimento das mazelas da humanidade e sofre com isso. Do alto avisa quando está feliz com vôos rasantes e belos, mas quando olha algo errado caga bem em cima do alvo para mostrar o tamanho da miséria. Igualmente faz o boi. Não com as mesmas atitudes, mas com a mesma consciência. Suas questões referem-se ao rebanho. Parte da base do porque e, assim, perguntas variam desde o caminho a ser seguido até as correções que a transformação pode e deve, acredita ele, realizar. É um eterno caminhante em busca da transformação.
A amizade a cada dia ficava mais forte. Todos os dias o passarinho vinha visita-lo e o boi alegre com sua presença começou, também, a narrar uma infinidades de transformações que poderiam ocorrer se acaso o medo não fosse fator imperativo. O passarinho extasiado com o mundo terreno quis botar a mão na massa, mas suas asas eram grandes demais. E aqui no chão era preza fácil. Ele tentou. Mudou. Andou. Não saiu do lugar. Ficou triste. O boi ficou triste. Ele dera ao boi sua prova de amor...
Nesse tempo em que permaneceu no chão, ele não tinha mais tempo para falar sobre as coisas que o boi gostava de ouvir. Ele não falou mais de seus sentimentos, não falou mais das projeções. Durante esse tempo, tamanha foi a mudança que ele quis freqüentar uma gaiola para ver o porque de alguns preferirem passar a maior parte de seu tempo lá e não no céu. Quis conhecer seu rebanho. Por esse tempo, logo após uma longa viajem por céus andinos, ela esteve presente em demasia. Fazendo com que a relação entre eles quase se extinguisse. O boi sofria com os carrapatos e o passarinho de fome. Ambos ocupavam lugares errados. Essa gaiola mudou muito a cabeça do passarinho. Lá impuseram que ele aplicasse sua paixão pelas projeções de maneira sistemática e ordenada. Quase o mataram!. Tamanha era a desconfiguração que ela provocou que ele não percebeu que aquilo que exigiam dele era natural e não precisava de qualquer coerção metodológica para que realizasse o que nasceu para fazer. Mas ainda está mudo.
Nestes últimos dias o boi e o passarinho finalmente saíram juntos, sozinhos. Ainda que o passarinho conhecesse quase todo mundo houve tempo suficiente para ficarem juntos. A conversa entre eles ainda não esta muito bem estabelecida. Mas o fato da aproximação já fez com que o boi enxergasse o seu caminho e seu lugar. Entretanto, o passarinho que agora doente por conta dela ainda não percebeu que tem que voar. Tem que sair do chão. Não só para se curar, mas para trazer alegrias ao seu amor. O boi, mesmo precisando de companhia irrestrita ao seu lado, escolhe a alegria e as aventuras que o passarinho pode trazer. É assim o relacionamento deles. Um na terra o outro no céu. Cada qual no seu mundo, realizando o que tem que fazer. Mas o passarinho não acertou seu vôo ainda. Ele tem que voltar a nutri-se à noite daquilo que propôs a fazer. É o único período que vem a terra. Assim como o único momento que o boi está no céu é quando sonha. É nesse encontro de mundos que acorre o beijo, o abraço, o amor. Ele não precisa dela. Pode alimentar-se algumas vezes para ir mais longe, mas não pode usar de artifícios para voar. O vôo só acontece quando o trabalho de suas asas é realizado, que por sua vez, usa de energia que acumulou a noite através daquilo que propôs a fazer, daquilo que é o seu caminho.
Quando tudo isso estiver em harmonia a relação de comensalismo será diário e, às vezes, o encontro do amor poderá se objetivar. Basta que cada um esteja em seu lugar mostrando ao outro a beleza daquilo que faz melhor.
Voa passarinho!
Transforma boi!
By Jeff Anderson
O Boi e o Passarinho
Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viajem,
O navio que sobre os abismos caminha.
Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.
Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico um cachimbo,
Outro Poe-se a imitar o enfermo que coxeia!
O poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
As asas de gigante impedem-no de andar.
(Charles Pierre Baudelaire)
Foi ela. Foi ela que atrapalhou seus vôos. Foi ela que confundiu seus sentimentos. Foi ela que rompeu a única maneira de um vôo seguro e duradouro. E foi ela que com suas nevoas, após consumida, rompeu a relação entre o passarinho e seu grande amor, o boi. Ela que, como a maçã de Adão e Eva, mostrou o atalho para se chegar aos céus. Era mentira. Ela, a erva daninha branca e suas sementinhas, fez com que ele arriscasse sua única natureza, a de voar.
O passarinho, que mora no décimo quarto andar de uma alta arvore, agora não voa. Atira-se. Atira-se para o abismo. Em busca de algumas emoções parte para o consumo inconsciente. Ele está mau. Já não voa mais. Está triste e sente-se sozinho, em um lugar estranho. Um estranho no ninho.
Vendo tudo isso, o boi que de saudades chora, e que recentemente passou por uma alto afirmação vê que cometeu um erro de analise quando quis empregar qualidades terrenas ao ser passarinho, que da terra só busca belas paisagens e retorna ao pouso seguro. Quando a saída dada ao passarinho foi a do trabalho, o boi sensível ao seu também amor, quis mostrar que algo estava errado. Entretanto, com suas palavras concretas como chumbo, não foi compreendido. As palavras eram para ele mesmo, enquanto a idéia, que não exposta da maneira como se faz chegar aos ouvidos sensíveis do passarinho perderam-se no ar. O boi quis mostrar que para o passarinho continuar voando e, assim, exercer o que de tão belo é seu dever bastava respeitar suas escolhas. Seus sentimentos. Todas as noites quando busca o sono é a maneira senão de descansar e revitalizar-se com novos sonhos e anseios de explorar novos ares. É aqui que o trabalho é realizado. Seu trabalho consiste em nutrir-se de conteúdo, ainda que impalpável. São as forças para o ciclo natural continuar trazendo beleza aos olhos do boi que lá do aberto campo o olha feliz com a imensidão azul e com a graça que só o passarinho quando, também, feliz pode proporcionar aos olhos lacrimados de um ser que sente todo o peso da tristeza quando não o avista fazendo o que nasceu para fazer: voar.
Antigamente, pois essa relação entre o boi e o passarinho tem mais de um ano, quando cada um estava em seu habitat e a primeira vista logo se apaixonaram existia o comensalismo. É algo que alguns seres humanos biólogos dizem quando existe uma relação mútua de ajuda entre dois seres distintos. É o que acontecia entre eles. O boi, já apaixonado antes mesmo da existência de qualquer relação, não acreditou quando sentiu, pela primeira vez, que podia ser construído algo bom que pudesse os unir. Foi então que ao encontrar-se em um campi os primeiros olhares começaram a existir. O boi infestado de carrapatos, parasitas que o usurpavam sua vitalidade, foi socorrido pela fome do passarinho que tem fome.
Esse era o ciclo. O passarinho era suprido de comida, enquanto ajudava o boi a se livrar de parasitas e, com isso, poderia continuar a conhecer os céus e o boi a transformar toda matéria terrena por onde passava. Era simples. Se não fosse o amor.
A paixão, como já disse, existia para o boi antes mesmo do passarinho mostrar qualquer interesse pelo mesmo. E isso, com o passar do tempo, foi transformando, capacidade que de tão explicita era clara como a Arte de transformar que o boi tinha, o passarinho e ele descobrindo o amigo boi. De tão amigos o passarinho contava historias que via por esses céus longínquos. Levantava a orelha do boi e cochichava seus segredos e sua única paixão: a projeção da luz e o som da natureza. O boi extasiado quase que voava. Apaixonado, quis mudar. E mudou tanto que queria voar. Queria era o passarinho. Queria era ficar juntinho. Mudou.
Vou.
Caiu.
Foi agora, neste ultimo último verão. Por isso, a auto-afirmação. Algumas coisas precisavam ficar claras na cabeça do boi e só o tempo pode ajudar. Boi não voa. Passarinho não pasta. Voar significa liberdade, significa conhecer um amplo campo, significa refinar a visão. Pastar é transformar. É a grama que o boi come e vira adubo para outras vidas crescerem. É a possibilidade que o boi proporciona para que a vida continue. Só que esse boi, assim como esse passarinho, não eram iguais aos outros de sua espécie. O passarinho, por exemplo, quando voa faz um reconhecimento das mazelas da humanidade e sofre com isso. Do alto avisa quando está feliz com vôos rasantes e belos, mas quando olha algo errado caga bem em cima do alvo para mostrar o tamanho da miséria. Igualmente faz o boi. Não com as mesmas atitudes, mas com a mesma consciência. Suas questões referem-se ao rebanho. Parte da base do porque e, assim, perguntas variam desde o caminho a ser seguido até as correções que a transformação pode e deve, acredita ele, realizar. É um eterno caminhante em busca da transformação.
A amizade a cada dia ficava mais forte. Todos os dias o passarinho vinha visita-lo e o boi alegre com sua presença começou, também, a narrar uma infinidades de transformações que poderiam ocorrer se acaso o medo não fosse fator imperativo. O passarinho extasiado com o mundo terreno quis botar a mão na massa, mas suas asas eram grandes demais. E aqui no chão era preza fácil. Ele tentou. Mudou. Andou. Não saiu do lugar. Ficou triste. O boi ficou triste. Ele dera ao boi sua prova de amor...
Nesse tempo em que permaneceu no chão, ele não tinha mais tempo para falar sobre as coisas que o boi gostava de ouvir. Ele não falou mais de seus sentimentos, não falou mais das projeções. Durante esse tempo, tamanha foi a mudança que ele quis freqüentar uma gaiola para ver o porque de alguns preferirem passar a maior parte de seu tempo lá e não no céu. Quis conhecer seu rebanho. Por esse tempo, logo após uma longa viajem por céus andinos, ela esteve presente em demasia. Fazendo com que a relação entre eles quase se extinguisse. O boi sofria com os carrapatos e o passarinho de fome. Ambos ocupavam lugares errados. Essa gaiola mudou muito a cabeça do passarinho. Lá impuseram que ele aplicasse sua paixão pelas projeções de maneira sistemática e ordenada. Quase o mataram!. Tamanha era a desconfiguração que ela provocou que ele não percebeu que aquilo que exigiam dele era natural e não precisava de qualquer coerção metodológica para que realizasse o que nasceu para fazer. Mas ainda está mudo.
Nestes últimos dias o boi e o passarinho finalmente saíram juntos, sozinhos. Ainda que o passarinho conhecesse quase todo mundo houve tempo suficiente para ficarem juntos. A conversa entre eles ainda não esta muito bem estabelecida. Mas o fato da aproximação já fez com que o boi enxergasse o seu caminho e seu lugar. Entretanto, o passarinho que agora doente por conta dela ainda não percebeu que tem que voar. Tem que sair do chão. Não só para se curar, mas para trazer alegrias ao seu amor. O boi, mesmo precisando de companhia irrestrita ao seu lado, escolhe a alegria e as aventuras que o passarinho pode trazer. É assim o relacionamento deles. Um na terra o outro no céu. Cada qual no seu mundo, realizando o que tem que fazer. Mas o passarinho não acertou seu vôo ainda. Ele tem que voltar a nutri-se à noite daquilo que propôs a fazer. É o único período que vem a terra. Assim como o único momento que o boi está no céu é quando sonha. É nesse encontro de mundos que acorre o beijo, o abraço, o amor. Ele não precisa dela. Pode alimentar-se algumas vezes para ir mais longe, mas não pode usar de artifícios para voar. O vôo só acontece quando o trabalho de suas asas é realizado, que por sua vez, usa de energia que acumulou a noite através daquilo que propôs a fazer, daquilo que é o seu caminho.
Quando tudo isso estiver em harmonia a relação de comensalismo será diário e, às vezes, o encontro do amor poderá se objetivar. Basta que cada um esteja em seu lugar mostrando ao outro a beleza daquilo que faz melhor.
Voa passarinho!
Transforma boi!
By Jeff Anderson
A preparação da morte
leio – “A vida como ela é”– Nelson Rodrigues
A preparação da morte
Liguei apenas duas vezes.
A primeira para saber a que horas seria o exame; e a outra para saber seu resultado.
Neste meio tempo cozinhava.
A consulta seria ás 17:00h, mas não haveria outra coleta de sangue. O feijão demorou mais de uma hora para ficar vermelho como terra. Adormeci enquanto aguardava.
O primeiro sono.
A segunda informação vinha acompanhada de uma voz pouco firme: ah! Ele me disse que deu positivo. Mas é para eu fazer outros exames para confirmar. Ficou acertado uma nova coleta dentro de, no Maximo, uma semana.
Meu coração dispara. Fico tenso e relembro de falas, contatos físicos e emocionais já vividos nestes 24 anos de muitas experiências sensoriais.
O feijão fica pronto. Tempero-o com bacon, alho e sal.
Relembro minha infância.
Começo a preparar o arroz. A alegria se faz presente, uma estranha alegria. Tenho, naqueles instantes, o retorno do prazer. Só pensamos na vida quando, por algum motivo, estamos prestes a perdê-la. Nossos dias são simples como o preparo do trivial arroz com feijão. Também fiz frango com batatas. Assada e com molho de requeijão.
Fui correr.
Corri no parque perto de casa, enquanto ele fazia compras no supermercado.
Pensei em rucula.
Antes de sair para fazer exercícios separei o feijão, o arroz e o frango com batatas que levaria, como jantar, àquele que há muito sofre de carência humana de cuidados simples.
Aos 500 metros do fim do meu primeiro km percorrido, estava no meio. Não sabia se reagiria racionalmente deixando-o ou continuaria a viver daquilo que sempre foi o meio, o combustível do porque de continuar a descobri o mundo: meus sentidos. Consegui percorrer 2 km. Algumas reflexões, abdominais e uma serie na barra.
Sentia-me bem. Saudável.
Esperei meu pai chegar. Arrumei uma sacola com a comida sem que percebesse. Moramos não muito longe um do outro. Nobre pobre.
Chegando em seu apartamento tive a impressão de limpeza. Ajudei-o a subir as compras. Chegamos juntos. Guardamos. Aguardamos em silêncio o fim daquela noite junto ao peso que uma informação que se fez cair sobre nossas costas. Ela não ficava pronta. Demorou mais que o feijão.
Disse para ele tomar um banho para que eu servisse o que havia preparado em casa. No apartamento não há muitos utensílios de suporte. Fiz uma salada de rucula com morangos e queijo branco junto a um molho de mostarda, iogurte e shoyo. No prato, montei a estética de um prato saudável da comida popular brasileira: arroz e feijão um ao lado do outro como que para o branco do arroz destacar-se com o vermelho terra do feijão. Acima – surgirá a dúvida da existência de camadas até mesmo em um prato ? – ficou o frango e as batatas com o molho de requeijão logo, também branco. Para quebrar com a predominância do branco fui até a geladeira e arranquei junto ao maço de manjericão um ramo de folhas verdes. Disponibilizei-as em cima do frango. Agradou.
Enquanto se trocava coloquei à mesa. Tudo pronto. Fiquei ao seu lado enquanto mastigava com toda a vontade que a fome de vida nos desperta a partir daquilo que nos mantem. Pouco falamos. Estávamos mortos.
Jeff Anderson
A preparação da morte
Liguei apenas duas vezes.
A primeira para saber a que horas seria o exame; e a outra para saber seu resultado.
Neste meio tempo cozinhava.
A consulta seria ás 17:00h, mas não haveria outra coleta de sangue. O feijão demorou mais de uma hora para ficar vermelho como terra. Adormeci enquanto aguardava.
O primeiro sono.
A segunda informação vinha acompanhada de uma voz pouco firme: ah! Ele me disse que deu positivo. Mas é para eu fazer outros exames para confirmar. Ficou acertado uma nova coleta dentro de, no Maximo, uma semana.
Meu coração dispara. Fico tenso e relembro de falas, contatos físicos e emocionais já vividos nestes 24 anos de muitas experiências sensoriais.
O feijão fica pronto. Tempero-o com bacon, alho e sal.
Relembro minha infância.
Começo a preparar o arroz. A alegria se faz presente, uma estranha alegria. Tenho, naqueles instantes, o retorno do prazer. Só pensamos na vida quando, por algum motivo, estamos prestes a perdê-la. Nossos dias são simples como o preparo do trivial arroz com feijão. Também fiz frango com batatas. Assada e com molho de requeijão.
Fui correr.
Corri no parque perto de casa, enquanto ele fazia compras no supermercado.
Pensei em rucula.
Antes de sair para fazer exercícios separei o feijão, o arroz e o frango com batatas que levaria, como jantar, àquele que há muito sofre de carência humana de cuidados simples.
Aos 500 metros do fim do meu primeiro km percorrido, estava no meio. Não sabia se reagiria racionalmente deixando-o ou continuaria a viver daquilo que sempre foi o meio, o combustível do porque de continuar a descobri o mundo: meus sentidos. Consegui percorrer 2 km. Algumas reflexões, abdominais e uma serie na barra.
Sentia-me bem. Saudável.
Esperei meu pai chegar. Arrumei uma sacola com a comida sem que percebesse. Moramos não muito longe um do outro. Nobre pobre.
Chegando em seu apartamento tive a impressão de limpeza. Ajudei-o a subir as compras. Chegamos juntos. Guardamos. Aguardamos em silêncio o fim daquela noite junto ao peso que uma informação que se fez cair sobre nossas costas. Ela não ficava pronta. Demorou mais que o feijão.
Disse para ele tomar um banho para que eu servisse o que havia preparado em casa. No apartamento não há muitos utensílios de suporte. Fiz uma salada de rucula com morangos e queijo branco junto a um molho de mostarda, iogurte e shoyo. No prato, montei a estética de um prato saudável da comida popular brasileira: arroz e feijão um ao lado do outro como que para o branco do arroz destacar-se com o vermelho terra do feijão. Acima – surgirá a dúvida da existência de camadas até mesmo em um prato ? – ficou o frango e as batatas com o molho de requeijão logo, também branco. Para quebrar com a predominância do branco fui até a geladeira e arranquei junto ao maço de manjericão um ramo de folhas verdes. Disponibilizei-as em cima do frango. Agradou.
Enquanto se trocava coloquei à mesa. Tudo pronto. Fiquei ao seu lado enquanto mastigava com toda a vontade que a fome de vida nos desperta a partir daquilo que nos mantem. Pouco falamos. Estávamos mortos.
Jeff Anderson
A desconstruçao dos quadrantes: espacialidade e imagem dentro das metrópoles.
Enquanto latinos anteriores a nós partiam para a cidade luz em busca de historias políticas, amores imagéticos, denúncias e resistência aos governos tiranos de seus paises com muito café em meio a atmosfera nostálgica do exílio dos anos amargados pela ditadura latino-americana. Nos saímos para a mesma Paris de Julio Cortazar, Mario Vargas Llosa, Eduardo Galeano, Carlos Fuentes e Gabriel Garcia Márquez em meio a outro contexto social político das Américas, que por sua vez, nos revelara uma problemática difícil tanto quanto há algumas décadas seja no âmbito social e não menos ao que se refere política. Foi assim que partimos em novembro de 2006 para Paris.
Em um quarto de hotel da Plaza la nacion, depois de um dia inteiro andando por mais de 12 horas pelas ruas e Bouvard da cidade que reflete a imagem da gloria e do conhecimento chegamos exaustos ao dormitório. Recepcionados pela Blanca, mulher de meia idade que ocupava o lobby do hotel com um sorriso amarelo não no sentido blasé da expressão, mas amarelo da cor, cor dos dentes. Disse, logo que entramos, dois bon soir olhando fixamente nos olhos a medida que pronunciava um para cada. Subimos.
Depois da sensação de descanso que o banho proporcionou e como não entendíamos quase nada da limitada programação da tv decidi pegar novamente a maquina fotográfica e brincar com a formação de situações/imagens. Estava com meu amigo Eloir Santos e, por conseqüente, o alvo ou modelo das experimentações acabou sendo ele. A principio resistiu um pouco porque estava cansado, resmungava bastante. Mas com um pouco de persistência terminou por aceitar quando disse que faríamos Arte. Palavra mágica aos ouvidos sensíveis e olhos atentos daquele que o dia inteiro, assim como eu, ficou extasiado com a exuberância de uma metrópole.
A primeira foto ocorreu com ele deitado. Como estava vendo-o somente de perfil, do lado direito, pedi para que ele colocasse a mão esquerda na boca de modo que eu não pudesse ver a extensão do braço. Feito isso, a imagem estava ali na minha frente formada pelo crânio e pela mão que se projetava com uma força que a sensação que me causou foi a de uma pessoa sendo engolida e, como em um ultimo gesto, pedia socorro através daquela que ainda resistia ao mundo não mastigado. Era a luta entre a sobrevivência da imagem pura e o deglutinador, o antropofágico de si mesmo. Uma expressão surreal.
Para a segunda acontecer não precisou de mais nada, bastou olharmos para o resultado na tela de lcd da câmera. Assim, rapidamente fui ate o banheiro e peguei um grande pedaço de fio dental e contornei o rosto do Eloir de tal forma que o fio dental formasse pequenas divisões em seu rosto, nada com dor ou sofrimento, tudo ali estava sendo feito depois de um dia inteiro de visitas a lugares excepcionais, comidas incríveis e muito vinho. A imagem resultado foi mais forte que a primeira. Houve uma seqüência de três ou quatro com a mesma situação do rosto. Essa que decidimos iniciar o projeto de vinculação por grandes metrópoles. Mas adiante explicitarei melhor tal projeto. Agora estou, ainda, no processo de criação que servirá como sustentação para o que estamos questionando.
Já com a segunda imagem criada as demais surgiram da catarze que a situação havia proporcionado. Em algumas horas produzimos dezenas de fotos.
Já no Brasil, o tempo distanciou a criação e revendo aquelas imagens que outrora fora criadas como uma espécie de convulsão por não mais haver espaço pelo tanto que vimos e sentimos na cidade racionalizada. Restaram perguntas. Perguntas que a medida que os dias passavam e mais pessoas, nossos amigos, conheciam aquelas que proporcionaram momentos engraçados dentro de um quarto de hotel de paris agora causavam, aqui no Brasil, situações constrangedoras, definições e perguntas que nem sequer passou pela nossa cabeça, tais como: “vocês estão questionando a religião católica”, “o Eloir se machucou fazendo isso” ou ainda aqueles que não conseguiram reconhecer nem mesmo o modelo e disseram que a imagem representa simplesmente tortura.
Eu me abstenho de qualquer definição plausível ou não pelo simples fato de ter consciência do processo de criação. Parto desse principio para aplicar teoria e chegar a premissa que temos em mente.
Remotarei-me a escola de Frankfurt com a discussão a respeito da teoria tradicional e teoria critica usando, como respaldo cientifico, o pensador Horkheimer.
O pensamento não pode ser compreendido distanciado da práxis histórica que o produziu. Não consegue-se separar a organização social do pensamento humano. Todo pensamento tem uma espacialidade e temporalidade, refere-se o pensador Max Horkheimer em “Teoria tradicional e teoria critica”, texto de 1937.
Não farei explanação teórica cientifica a respeito da obra do sociólogo alemão e sim usarei como ponto de partida e demonstração do que nos faz sofrer a pós-contemporaneidade com seus entraves e contradições, principalmente contradições.
Começo por expor a contradição que a imagem causou. Já visto o que alguns manifestaram a respeito do que viram, a imagem não é resultado de nenhuma daquelas proposições citadas. Não foi pensada com intuito de repugnar e não foi, muito menos, idealizada. Em uma analise da obra em sua finalização e do contexto de criação não há nada que venha a justificar a expressão que o rosto nos apresenta, mas existe em linhas indiretas a noção de manipulação. Manipulamos. Manipulamos a imagem inconseqüentemente total desprovido de propósitos, apenas buscando uma linguagem visual expressiva e fora de padrões sem adjetivos. O resultado foi esse que vocês estão vendo pelas ruas. A contradição esta, portanto, no significado uma vez que o significante nada condiz com as observações calorosas ou não que venho recebendo a respeito da imagem. Essa é a questão fundamental. Foi essa a questão que nos fez parar pra refletir a respeito da imagem. Van gogh, por exemplo, pintava com cores alegres lindos campos, mas cortou a própria orelha em um momento de insanidade. O significante não condiz muitas vezes com o significado se assim observarmos a partir da premissa de que “o pensamento não pode ser compreendido distanciado da práxis histórica que o produziu”, como explicar tanta beleza em cores de quadros feitos por um homem atormentado, triste e solitário? Ou ainda, quando trazemos essa questão aos nossos dias vemos propaganda nos mostrando através de imagens que não condizem com a situação real. O exemplo clássico são as propagandas de empreendimentos imobiliários que trazem através dos condomínios muita segurança, paz e qualidade de vida. Mentira. A tentativa de vender o significado moldado ao que a nossa sociedade há muito deixou de construir e uma falácia. Todo nós sabemos que não existe, por exemplo, segurança em lugar algum e mesmo assim publicitários de ordem tradicional continuam a vender um significante enganoso. A imagem não condiz com a realidade. Isso me faz lembrar de outra propaganda, devidamente modificada: “a imagem não e nada. Sede e tudo. Obedeça sua sede, beba água”.
Explicitado a questão da imagem parto agora para outra idéia que vimos ser destruída com a práxis. Trata-se da questão da condição de localidade. Fizemos essa fotos sendo brasileiros, hospedamos as imagens em um site japonês e agora, como parte do projeto na tentativa de demonstração que a espacialidade é uma resultante, quando tratada na ordem de uma metrópole, dispensável colamos em muros espalhados pelo mundo: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Londres, Paris, Barcelona, Milão e Amsterdam.
Se todo pensamento tem origem pratica, histórica, social que condiz com a espacialidade e tempo, segundo Horkheimer. Nosso pensamento seguido da criação de algumas imagens em território distinto ao de nascimento e culturizaçao vem mostrar o contrário.
Criamos um Frankenstein apátrida do qual ao contrário do personagem de Mary Shelley não vem para nos destruir e sim para comprovar mais uma contradição da pós-contemporaneidade.
Enquanto latinos anteriores a nós partiam para a cidade luz em busca de historias políticas, amores imagéticos, denúncias e resistência aos governos tiranos de seus paises com muito café em meio a atmosfera nostálgica do exílio dos anos amargados pela ditadura latino-americana. Nos saímos para a mesma Paris de Julio Cortazar, Mario Vargas Llosa, Eduardo Galeano, Carlos Fuentes e Gabriel Garcia Márquez em meio a outro contexto social político das Américas, que por sua vez, nos revelara uma problemática difícil tanto quanto há algumas décadas seja no âmbito social e não menos ao que se refere política. Foi assim que partimos em novembro de 2006 para Paris.
Em um quarto de hotel da Plaza la nacion, depois de um dia inteiro andando por mais de 12 horas pelas ruas e Bouvard da cidade que reflete a imagem da gloria e do conhecimento chegamos exaustos ao dormitório. Recepcionados pela Blanca, mulher de meia idade que ocupava o lobby do hotel com um sorriso amarelo não no sentido blasé da expressão, mas amarelo da cor, cor dos dentes. Disse, logo que entramos, dois bon soir olhando fixamente nos olhos a medida que pronunciava um para cada. Subimos.
Depois da sensação de descanso que o banho proporcionou e como não entendíamos quase nada da limitada programação da tv decidi pegar novamente a maquina fotográfica e brincar com a formação de situações/imagens. Estava com meu amigo Eloir Santos e, por conseqüente, o alvo ou modelo das experimentações acabou sendo ele. A principio resistiu um pouco porque estava cansado, resmungava bastante. Mas com um pouco de persistência terminou por aceitar quando disse que faríamos Arte. Palavra mágica aos ouvidos sensíveis e olhos atentos daquele que o dia inteiro, assim como eu, ficou extasiado com a exuberância de uma metrópole.
A primeira foto ocorreu com ele deitado. Como estava vendo-o somente de perfil, do lado direito, pedi para que ele colocasse a mão esquerda na boca de modo que eu não pudesse ver a extensão do braço. Feito isso, a imagem estava ali na minha frente formada pelo crânio e pela mão que se projetava com uma força que a sensação que me causou foi a de uma pessoa sendo engolida e, como em um ultimo gesto, pedia socorro através daquela que ainda resistia ao mundo não mastigado. Era a luta entre a sobrevivência da imagem pura e o deglutinador, o antropofágico de si mesmo. Uma expressão surreal.
Para a segunda acontecer não precisou de mais nada, bastou olharmos para o resultado na tela de lcd da câmera. Assim, rapidamente fui ate o banheiro e peguei um grande pedaço de fio dental e contornei o rosto do Eloir de tal forma que o fio dental formasse pequenas divisões em seu rosto, nada com dor ou sofrimento, tudo ali estava sendo feito depois de um dia inteiro de visitas a lugares excepcionais, comidas incríveis e muito vinho. A imagem resultado foi mais forte que a primeira. Houve uma seqüência de três ou quatro com a mesma situação do rosto. Essa que decidimos iniciar o projeto de vinculação por grandes metrópoles. Mas adiante explicitarei melhor tal projeto. Agora estou, ainda, no processo de criação que servirá como sustentação para o que estamos questionando.
Já com a segunda imagem criada as demais surgiram da catarze que a situação havia proporcionado. Em algumas horas produzimos dezenas de fotos.
Já no Brasil, o tempo distanciou a criação e revendo aquelas imagens que outrora fora criadas como uma espécie de convulsão por não mais haver espaço pelo tanto que vimos e sentimos na cidade racionalizada. Restaram perguntas. Perguntas que a medida que os dias passavam e mais pessoas, nossos amigos, conheciam aquelas que proporcionaram momentos engraçados dentro de um quarto de hotel de paris agora causavam, aqui no Brasil, situações constrangedoras, definições e perguntas que nem sequer passou pela nossa cabeça, tais como: “vocês estão questionando a religião católica”, “o Eloir se machucou fazendo isso” ou ainda aqueles que não conseguiram reconhecer nem mesmo o modelo e disseram que a imagem representa simplesmente tortura.
Eu me abstenho de qualquer definição plausível ou não pelo simples fato de ter consciência do processo de criação. Parto desse principio para aplicar teoria e chegar a premissa que temos em mente.
Remotarei-me a escola de Frankfurt com a discussão a respeito da teoria tradicional e teoria critica usando, como respaldo cientifico, o pensador Horkheimer.
O pensamento não pode ser compreendido distanciado da práxis histórica que o produziu. Não consegue-se separar a organização social do pensamento humano. Todo pensamento tem uma espacialidade e temporalidade, refere-se o pensador Max Horkheimer em “Teoria tradicional e teoria critica”, texto de 1937.
Não farei explanação teórica cientifica a respeito da obra do sociólogo alemão e sim usarei como ponto de partida e demonstração do que nos faz sofrer a pós-contemporaneidade com seus entraves e contradições, principalmente contradições.
Começo por expor a contradição que a imagem causou. Já visto o que alguns manifestaram a respeito do que viram, a imagem não é resultado de nenhuma daquelas proposições citadas. Não foi pensada com intuito de repugnar e não foi, muito menos, idealizada. Em uma analise da obra em sua finalização e do contexto de criação não há nada que venha a justificar a expressão que o rosto nos apresenta, mas existe em linhas indiretas a noção de manipulação. Manipulamos. Manipulamos a imagem inconseqüentemente total desprovido de propósitos, apenas buscando uma linguagem visual expressiva e fora de padrões sem adjetivos. O resultado foi esse que vocês estão vendo pelas ruas. A contradição esta, portanto, no significado uma vez que o significante nada condiz com as observações calorosas ou não que venho recebendo a respeito da imagem. Essa é a questão fundamental. Foi essa a questão que nos fez parar pra refletir a respeito da imagem. Van gogh, por exemplo, pintava com cores alegres lindos campos, mas cortou a própria orelha em um momento de insanidade. O significante não condiz muitas vezes com o significado se assim observarmos a partir da premissa de que “o pensamento não pode ser compreendido distanciado da práxis histórica que o produziu”, como explicar tanta beleza em cores de quadros feitos por um homem atormentado, triste e solitário? Ou ainda, quando trazemos essa questão aos nossos dias vemos propaganda nos mostrando através de imagens que não condizem com a situação real. O exemplo clássico são as propagandas de empreendimentos imobiliários que trazem através dos condomínios muita segurança, paz e qualidade de vida. Mentira. A tentativa de vender o significado moldado ao que a nossa sociedade há muito deixou de construir e uma falácia. Todo nós sabemos que não existe, por exemplo, segurança em lugar algum e mesmo assim publicitários de ordem tradicional continuam a vender um significante enganoso. A imagem não condiz com a realidade. Isso me faz lembrar de outra propaganda, devidamente modificada: “a imagem não e nada. Sede e tudo. Obedeça sua sede, beba água”.
Explicitado a questão da imagem parto agora para outra idéia que vimos ser destruída com a práxis. Trata-se da questão da condição de localidade. Fizemos essa fotos sendo brasileiros, hospedamos as imagens em um site japonês e agora, como parte do projeto na tentativa de demonstração que a espacialidade é uma resultante, quando tratada na ordem de uma metrópole, dispensável colamos em muros espalhados pelo mundo: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Londres, Paris, Barcelona, Milão e Amsterdam.
Se todo pensamento tem origem pratica, histórica, social que condiz com a espacialidade e tempo, segundo Horkheimer. Nosso pensamento seguido da criação de algumas imagens em território distinto ao de nascimento e culturizaçao vem mostrar o contrário.
Criamos um Frankenstein apátrida do qual ao contrário do personagem de Mary Shelley não vem para nos destruir e sim para comprovar mais uma contradição da pós-contemporaneidade.
PASSADO
Vamos lá ...
Mais uma carta entre tantas outras que não deram certo.
Esta ouvindo alguma musica ?
Se não estiver .. .. coloca alguma coisa para ouvir enquanto lê .....
Estou ouvindo Los Hermanos.
Pensei em compor essa com trechos da letra da musica que ouço agora, mas te conheço tão bem quanto eu mesmo para não fazer algo impessoal dessa forma. Serei como sempre fui .... da maneira que sempre te encantou.
Hoje está um dia bonito ... eu gosto de dias nublados com frio. Tomo um café ... olho as coisas como se tivesse muito tempo ou na iminência da perda .... é assim, e por isso, que sinto tantas saudades e aproveito tanto .... antes que elas se vão.... ou se apaguem no tempo.
Aproveito.
Quando olho para você vejo um espelho .... sei das reações antes que delas acontecerem.
É sintomático.
Vejo a impossibilidade. Vejo o medo. Vejo o amor. Vejo a tristeza. Vejo o carinho.
Sinto...
Sinto a entrega... tardia
Porque ?
Tinha um ideal.
Lutei
Senti. Entreguei-me. Vivi.
Você não viveu. Estava em um buffet servindo-se de emoções... daquelas que convinham.
Prudente
Covarde
Triste...
Porque ?
Sabemos. Sempre soube. Tentei ajudar e ajudei ....refleti tudo o que via .... você negou .. negou ... negou .... me negava para não se ver ...se apagava.
Projeção sem musica.... um dia nublado.
Alguns preferem sol, praia, calor ... cachorro, filhos, casa, carro, gravata.
Quero uma bicicleta, livros, um sorvete em julho e um apartamento clean. Quero um coração sem lagrimas, sem dor.
Você sabia que o coração é parecido com um livro ?
Agora vem o choro....
Choro
Estou sozinho com alguém que me ama. É estranho...não vejo um paradoxo em tudo isso. Não acredito em problemas que não tenham solução. Somos criativos, não é mesmo ?
Tudo o que você esta vivendo é sua colheita ... SUA responsabilidade.
Aprenda. Eu sei que isso acontecerá. Um dia falamos que não mais precisávamos falar. Há problemas nisso?
há...
ouve.
Ouça-te.
Mais uma carta entre tantas outras que não deram certo.
Esta ouvindo alguma musica ?
Se não estiver .. .. coloca alguma coisa para ouvir enquanto lê .....
Estou ouvindo Los Hermanos.
Pensei em compor essa com trechos da letra da musica que ouço agora, mas te conheço tão bem quanto eu mesmo para não fazer algo impessoal dessa forma. Serei como sempre fui .... da maneira que sempre te encantou.
Hoje está um dia bonito ... eu gosto de dias nublados com frio. Tomo um café ... olho as coisas como se tivesse muito tempo ou na iminência da perda .... é assim, e por isso, que sinto tantas saudades e aproveito tanto .... antes que elas se vão.... ou se apaguem no tempo.
Aproveito.
Quando olho para você vejo um espelho .... sei das reações antes que delas acontecerem.
É sintomático.
Vejo a impossibilidade. Vejo o medo. Vejo o amor. Vejo a tristeza. Vejo o carinho.
Sinto...
Sinto a entrega... tardia
Porque ?
Tinha um ideal.
Lutei
Senti. Entreguei-me. Vivi.
Você não viveu. Estava em um buffet servindo-se de emoções... daquelas que convinham.
Prudente
Covarde
Triste...
Porque ?
Sabemos. Sempre soube. Tentei ajudar e ajudei ....refleti tudo o que via .... você negou .. negou ... negou .... me negava para não se ver ...se apagava.
Projeção sem musica.... um dia nublado.
Alguns preferem sol, praia, calor ... cachorro, filhos, casa, carro, gravata.
Quero uma bicicleta, livros, um sorvete em julho e um apartamento clean. Quero um coração sem lagrimas, sem dor.
Você sabia que o coração é parecido com um livro ?
Agora vem o choro....
Choro
Estou sozinho com alguém que me ama. É estranho...não vejo um paradoxo em tudo isso. Não acredito em problemas que não tenham solução. Somos criativos, não é mesmo ?
Tudo o que você esta vivendo é sua colheita ... SUA responsabilidade.
Aprenda. Eu sei que isso acontecerá. Um dia falamos que não mais precisávamos falar. Há problemas nisso?
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ouve.
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